Temperança
A Dinâmica das Pausas
… temos medo das pausas. Todos nós já tentamos dar conta das pausas buscando controlá-las, e a sensação resultante não é agradável. Uma pausa é uma corrente que já tem rumo. Ao contrário do que a palavra possa nos sugerir, uma pausa não é algo neutro. É um trecho, uma passagem onde não temos porque controlar o leme – o rumo já é definido. Entregar-se é a forma de navegar pelas pausas, e quando não compreendemos esta lei do fluxo, ficamos bastante angustiados. Reagir a uma pausa é, portanto, remar contra a maré, é nadar contra a corrente de nossas próprias vidas.
As pausas ficam assim associadas à perda de controle e às experiências violentas por ela ocasionadas. Uma queda, uma força ou uma velocidade que nos surpreende, um objeto que se nos escapa da mão, e confirmamos nosso temor. Estas quedas, estes deslocamentos silenciosos nossos ou de alguma coisa à nossa volta que não controlamos são pausas. A pausa, como disse, não é uma inatividade, mas a hibernação dos meios de controle da realidade à nossa volta.
Quem se permite experimentar uma pausa, quem se permite descobrir que, para além da violência do descontrole, atinge-se trechos do percurso onde a vida retoma controle (onde não há mais rumo, mas calmaria) acaba por encontrar uma nova forma de se relacionar com a própria vida. Quando a pausa for intensa, ou quando se tratar da grande pausa, este indivíduo possuirá a experiência necessária para saboreá-la como parte integrante, e não intrusa da vida.
Imagem – Temperança – Robert Place
Texto – Nilton Bonder
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